Olhamos pra trás
Se aproxima um cento de dias.
Cem dias sem mim
E sem mais quase ninguém
No mundo real.
Sem gente nas ruas
No mar
Nos voos e aeroportos com seus planos e passos apressados.
“Sem tempo, irmão.” Será que alguém ainda lembra que essa era a expressão de todo dia?
Cem dias sem abraços.
Cem dias sem respirar fundo, sem barreira de máscaras.
Cem dias em que, no meio deles, rareou a fé, tamanho o medo.
Cem dias nos quais uns foram mais otimistas e outros inundados no caos.
Já passa de milhão de brasileiros tocados pela praga do “sem”: sem escola, sem trabalho, sem atalhos, sem rotina, sem esporte, sem certezas. (Tudo isso sem falar dos ministérios sem ministros, da presidência sem coerência e do patriotismo derretido, deformado)
Cem dias sem sono certo
Cem dias com sono eterno.
Cem dias que já soam como só os primeiros
De novos cem, e mais cem, e mais cem….
Até que pararemos de contar em centos porque estes ficarão pequenos.
Olhamos pra trás.
Olhamos pro presente.
Olhamos pra frente: seguiremos contando tudo que se possa contar.
Histórias, dias, saudades. Infinitas e incontáveis.

Cem dias sem dias de paz